quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Já era, era amor

Ele sabia como fazer o negócio. Sabia muito bem. Desde o começo, a envolveu com o seu sorriso de boca fechada e com os olhos que a comiam ardentemente, desde a primeira vez que a viu. De início, ela se sentiu invadida e não gostou, quis que ele se afastasse, que a deixasse ir. Não quis dar intimidade. Apesar disso, ele persistiu e, aos poucos, embora continuasse se sentindo invadida, começou a gostar disso; foi desarmada, se rendeu.

 Ele a fez implorar, pedir por favor. O rapaz queria conversar por horas e horas, mas ela já estava ficando louca com aquela espera; com aquela delonga; com aquela demora. Estava virando um suplício para ela. A menina já havia imaginado todo o filme dos seus corpos entrelaçados. Queria que ele a consumisse, a penetrasse, a desvendasse e a mostrasse tudo o que ela poderia ser e ainda não sabia.

Ela não era virgem, mas ainda assim perdeu muitas virgindades com aquele homem. Ele a mostrou seu próprio corpo, seus próprios gostos, os seus detalhes e retalhos. Ela sentiu, através dele, o seu próprio sabor. E gostou. Muito. Via a cena como se fosse uma mera observadora no recinto. Via o seu sorriso estampado, entre gemidos, de olhos fechados. Mãos para o alto, dedos entrelaçados à cabeceira da cama, segurando a madeira firmemente.

Ele foi suave, gentil. E completamente diferente de todos os outros. Ele a olhava nos olhos durante toda aquela luxúria. As suas mãos eram fortes, seguras, sabiam exatamente onde ir e como agir. Ele a disse que sabia que ela não estava acostumada a sentir tanto prazer, e que aquilo era só o começo. Disse também que ela levava jeito pra coisa e que ainda ia fazer muito marmanjo sofrer nas suas mãos. Ele quis dizer entre as suas pernas, mas não quis ser deselegante.

Deselegante, afinal, era tudo o que ele não era nenhum pouco. Era elegante em tudo: na fala, na linguagem corporal, no sorriso, nas piadas, no toque e até mesmo nas inseguranças. A princípio, ele as escondia muito bem. Mas, de pouquinho a pouquinho, ela sacou que a segurança dele era aquela segurança tipicamente adolescente, que funciona como uma máscara para esconder todos medos e a imensa dificuldade de entregar-se. Ela sacou, mas achava graça, achava bonitinho. Estava tão envolvida que não conseguia ver nenhum defeito naquele homem. Tudo, sob seu olhar, virava peculiaridade, aptidão, capacidade e, portanto, qualidade.

Ele é um cara que tem uma linha de funcionamento na cama. Tem ordem, tem planejamento. Sabe o que vai provocar, o que vai fazer sentirem com cada gesto, com cada toque. Com certeza, ele deve fazer muito sexo. Todas as meninas devem querer. Todas devem ficar assim, que nem ela ficou. É um homem que, por detrás dessa máscara, tem medo. Provavelmente, arruma muitas conquistas para lutar contra esse medo. É isso que ele faz da vida, faz amor; faz com que todas fiquem caidinhas por ele e, assim, ele alimenta o seu ego e joga os seus medos pra debaixo da cama. Parece funcionar, mas nem tudo que parece é.

Ela deixou o seu corpo ser o que ele queria ser. Permitiu que ele buscasse, que ele encontrasse, que ele fosse exatamente o que ele era e nem sabia, e nem podia. O quadril, liberto. As unhas cravadas nas costas dele. Os cabelos descabelados, e belos. O corpo arrepiado, molhado. A boca seca. Puxava os seus cabelos, beijava o seu pescoço. Como se fosse morrer logo em seguida. Como se fosse a primeira e, ao mesmo tempo, a última vez. Aquele momento lhe pareceu o ápice de toda a sua vida. Mal sabia ela que depois dele ainda viriam muitos outros. Pensava que não, que se tratava de uma química linda demais para que se repetisse. Nunca mais aconteceria, julgava a mulher. Mulher que ela estava se tornando justamente naquele momento.

Quando os dois acabaram, ela se entregou ao colchão deitada, rendida, embeiçada, enamorada. Ao lado dele. Ficou olhando para o teto por alguns segundos sem entender bem o que tinha acabado de acontecer. Ele, carinhosamente, virou o seu rosto para ele e mergulhou os seus olhos nos olhos dela por minutos e minutos, sem pressa. Ela ficou surpresa que ainda estava viva, que aquilo era real. O frio alcançou o seu ventre mais uma vez e a sensação era de que várias borboletas estavam voando de um lado para o outro, fazendo altas acrobacias áreas, tudo dentro dele. Ela sentiu medo de que aquilo acabasse, e se não fosse recíproco?

Decidiu abandonar aquele pensamento, sabia que não era hora disso. Fechou os olhos e o beijou, tirando todo o seu fôlego. Ele tremia, também estava no mesmo transe que ela. Ela pediu mais. Agora que havia experimentado, não queria mais largar o osso. Ele ficou feliz de realizar o desejo dela. Esse e tantos outros. Todas as vezes, ela achava que ia morrer. O coração fazia que ia sair pela boca. Mas não saía, tudo se mantinha sob controle. Bem, pelo menos todos os seus orgãos e suas funções vitais. O mesmo não podia ser dito sobre as suas fantasias e os seus sentimentos.

Seguidamente, conversaram por horas. Falaram sobre o sentido da vida, sobre mortes difíceis que enfrentaram, sobre alguns bons amigos que cada um carregava na memória, sobre realização profissional e tudo o mais. Já eram íntimos um do outro, num instante. Em meio a uma pausa, os dois dormiram. Abraçados, enlaçados, entrelaçados. Ela sonhou muito naquela noite, mas mal se lembrou quando acordou.

E os dois acordaram juntos, lado a lado. Fizeram cafuné um no outro e se amaram mais algumas vezes antes de tomarem coragem para se levantarem. Nem escovado os dentes eles tinham, mas isso não prejudicou nenhum pouco os beijos. Muito pelo contrário. Ela disse que precisava ir. Ele discordou. Ela sorriu, com os olhos e com a boca. Ele sorriu de volta e a envolveu em seus braços por trás, enchendo o seu pescoço de beijos, repetidamente. Ela arrepiou e os dois se amaram mais uma vez antes dela sair pela porta da sala.

E ele, esperto que é, estava completamente certo desde o princípio: aquilo tudo era só o começo. Ela ainda entraria e sairia muitas vezes por aquela mesma porta. Os sorrisos se tornariam familiar e cada pedacinho dos seus corpos também. Já era, pois era amor.

3 comentários:

  1. Wow, wow, just wow. It has been so long... but you more than compensated for the wait with htis masterpiece. It is so so vivid, so confessional. You open yourself more than ever, and describe so intensely,erotically, but so sweetly, such an intimate experience, but make it into something so beautiful, so strong, so passionate. This is art, this is beauty, This is your talent, and hopefully your vocation.
    Keep writing

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  2. Gabi! Adorei! Muito real, muito detalhista! Muito fácil, agradável de ler:) parecia um filme na minha cabeça

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  3. Somebody else apart from me is commenting.....I almost feel jealous hahahah :-)
    I have been doing a boring revision and distracting myself on fb and there I discovered on brain pickings (a great site) this funny video, which for some reason reminded me of you... maybe I am being rude to post it here hahahah More seriously, I hope you will write something new soon! Keep following your muse, keep writing, always!!! :-)
    Here is the video... (semi-embarassed face)
    http://www.youtube.com/watch?v=hpc2NjUAtOY

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