segunda-feira, 8 de abril de 2013

Falta de mim

Tem dias que a gente levanta com o pé esquerdo.

Hoje foi pior. Antes mesmo de eu sair da cama, já estava com essa sensação. O telefone tocou e era uma das várias pessoas que eu não estava afim de encontrar ou de conversar hoje.

Eu sei que essa postura parece mal humorada demais, antissocial demais, mas hoje eu não me importo. No fundo, tem tantos dias que eu não estou afim de ver ninguém e mesmo assim cedo, faço a minha parte, convivendo com uma série de pessoas as quais eu desprezo, persistindo num curso que eu já descobri não ser a minha praia, requebrando para lidar com as decepções e traumas familiares, dando um jeito de me adaptar aos outros sempre, indo nos almoços, escrevendo a tal da carta que eles querem ler, falando o que eles querem ouvir. "A faculdade vai ótima, obrigada". "É, agora falta pouco". "Não, não estou namorando, mas a vida é assim mesmo, Vó, daqui a pouco aparece alguém que valha a pena".

Façam o favor: Por hoje, não me encham. Acho que mereço.

Atendi o telefone contrariada, me armando de meias palavras pra que aquilo durasse o mínimo possível.

Aí me libertei - nem que seja só por 24h.

Desliguei o celular e o deixei em cima da cama. Coloquei meu biquíni  um vestidinho, peguei um livro e segui para a praia. Ufa!

Peguei uma cadeira - o que eu nunca faço, mas hoje eu tava afim, ué. Passei mais filtro solar e abri o tal do livro. Li, li, li, como não fazia há tempos.

Quando eu vi, já tinha lido umas 150 páginas e já eram quase 18h, mas eu ainda precisava de tempo, do meu tempo. Como diria Lenine, meu corpo estava não só precisando de calma, mas também de alma, contato com minha própria alma.

Isso me fez lembrar que outro dia um grande amigo meu estava me contando o quanto ficou chocado com uma história de um amigo dele alemão que está passando uns tempos aqui pelo Rio. O tal do amigo alemão veio passar 3 meses por aqui, mas não aguenta ficar sozinho um minuto. Sai fazendo uma série de amigos pela internet e está sobrevivendo por aqui levando uma vida promíscua pra afogar a carência - não é nem suprir, né? Promiscuidade não supre carência.

O alemão então comprou passagem, reservou hotel e sarapatel para ir pro Recife. Planejava ficar uma semana. Ligou para o meu amigo para se informar sobre o ônibus que ele poderia pegar pra ir ao aeroporto. E foi. No entanto, em cima da hora, amarelou, não embarcou. Meu amigo, dias depois, perguntou o que fez ele não embarcar, visto que já tinha reservado tudo e já estava no aeroporto. Peguntou se, por acaso, ele achava que o Nordeste pudesse ser perigoso demais ou algo do gênero. Mas não era isso. O alemão estava com medo de ficar sozinho. "1 semana, achei que eu fosse ficar sozinho demais".

Caramba, que tipo de criação essas pessoas tiveram? O cara me vem pro Brasil e tem medo de passar alguns dias sozinho?

Saí da praia, jantei num dos meus restaurantes preferidos, dei uma passada no cinema Estação do lado da minha casa pra ver se tinha alguma coisa que prestasse - e tinha! Fui ao cinema, tomei coca-cola e comi pipoca cheia de sal - sim, eu não estou nem aí pras minhas artérias entupidas hoje, obrigada - e, apesar disso, voltei pra casa uns 5 kg mais leve. Cheguei e ainda peguei meu tapetinho de yoga pra fazer um super alongamento e dormir melhor.

Tomei um banho delicioso e decidi só ver o celular e a internet amanhã, quero o dia inteiro de folga, ainda não tive tempo suficiente comigo mesma... Ça n'a pas suffit.

Ai, que saudades que eu tava sentindo de mim!







2 comentários:

  1. You shouldn´t have left this poem unpublished for so long.. it is really good. Although it is obvious that it wasn´t written now, when I read it at first, I thought some of the questions (about you course for example) were things that were still very present. I also suspect that what you are writing about is an essential part of you, this need to take time for you (and also - something which I suffer from myself - doing too much). But at the same time, as I have said too many times, you have this amazing ability to write deeply personal things that anyone can understand and relate to....
    That´s an amazing story about the German, so bizzare it has to be true.. hahahahaha how could anyone not be able to spend time alone? I am a very emphatic person, but this I cannot understand..
    Keep writing my friend, keep writing :-)

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