sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Aquele seu perfume

Agora há pouco, eu estava no metrô voltando do trabalho com a cabeça vagando a 10 km/h, devagarzinho quase parando. Estava passeando sem rumo por vários pensamentos sem sentidos, mas sem pressa, sem preocupação, apenas mexendo em algumas lembranças bobas a caminho de casa, pra me distrair. Eis que você, pra variar, arruina minha tranquilidade. Impressionante, até quando você nem tenta você consegue (ou pode ser que você tenha uma mente muito poderosa, mas acho que não).

Eu tava saindo do metrô, indo em direção às escadas e, de repente, me passa um cara com uma blusa quadriculada branca e azul parecidíssima com uma que você tem e ainda por cima usando o seu perfume. Ééé.., aquele mesmo perfume, de tantos anos atrás. Você se lembra daquela vez que ele acabou e eu fiquei mais chateada do que você? Tratei logo de encomendar um pra você quando a primeira amiga foi viajar.

Pois bem, me passa esse cara com o seu perfume, jogando o seu aroma por aí assim, como se tivesse esse direito! Minha vontade era ir atrás dele e sair cheirando-o por aí, mundo a fora, me embriagando do seu cheiro tão familiar, excitante e saudoso - imagina o que iam pensar de mim!
 
Sabe... acho que depois de tanta coisa, de tanto vai e vem (em todos os sentidos), de tanto remexermos nessa nossa história, você nem leva mais o que eu te digo a sério, né? Nem importa, tudo bem, o que a gente foi tem que ficar só na lembrança mesmo, já decidimos que assim é melhor... mesmo assim, tem dias que só quero sair correndo pra sua casa, me jogar nos seus braços, encaixar meu rosto no seu peito (nosso encaixe sempre foi tão bom, isso não tem como negar) e pedir pra você me proteger pra sempre nesse ninho - mesmo a gente sabendo que eu virei outra desde que descobri que tenho asas e aprendi como usá-las; e logo, logo decido voar mundo a fora, afinal não é pra isso que as temos?
 
Mas te amo, de coração. O seu lugar até hoje tem sido só seu e de mais ninguém.
 
Sabe de outra coisa? Eu sempre dizia por aí, mesmo depois de muito tempo terminados, que eu iria enlouquecer quando você namorasse outra pessoa. Meus amigos não entendiam: "então por que você não volta com ele de uma vez?". É, gente, também carrego em mim um bando de sentimentos ruins. O nome desse é possessão. Você foi meu, eu fui sua, muito, tanto, de verdade. Não queria que ninguém tascasse. Ficar tudo bem, transar sem problemas, fico até feliz por você, mas dizer "eu te amo" pra outra? Na-na-ni-na-não.
 
Parei pra pensar hoje e percebi que (finalmente) me libertei (ao menos) desse sentimento ruim. Quero que você seja feliz. Juro, é clichê, mas é verdade. Ás vezes os clichês são a melhor forma de falarmos o que sentimos. Dessa vez, falo pra valer. Antes, é verdade, existia a limitação de eu não querer que você encontrasse alguém legal. Podia até sair com uma ou outra legais, bonitas, mas não melhores que eu. Mas agora pode, vai fundo, você também merece. É claro que eu vou ficar mordidinha, mas não vou morrer nem nada. A gente tem mesmo é que se guardar pra sempre na nossa memória, num cantinho especial, e, depois disso, seguir em frente. Faço isso há anos com você - ainda que eu vá e volte depois, sempre vou - e hoje te alforrio por completo: vai ser feliz, meu bem.
 
Ah! Mas com uma condição: que ninguém use mais o seu perfume por aí, claro.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Carta entre sonhos

      



       Oi, netinha
 
       Resolvi passear hoje pelos seus sonhos porque senti que você tava precisando de um conforto especial; tinha que ser meu, não tava servindo de mais ninguém.
       Para começar, hoje, um pouco diferente de como era na época que eu ainda tava aí pela Terra, vou usar só palavras doces. É que eu mudei muito, sabe? Aprendi como as coisas realmente funcionam... mas isso eu não posso te contar, um dia você também vai entender os mistérios dessa vida.
       Apesar de estar mais suave, continuo o mesmo, Biribiu. Pode acreditar. Ainda sou rabugento, por sinal. É que por carta eu consigo canalizar as minhas forças melhor e selecionar apenas as palavras mais adequadas.
       Enfim, só estou passando por aqui pra te lembrar que a morte é muito pouco. Embora eu não possa te explicar detalhadamente e, daí, você nem possa entender a morte, estou te dando essa dica: é pouco; é bem menos do que a gente imagina.
       Por isso, não exite em sorrir sempre que pensar em mim, ainda sou eu, você apenas não me enxerga mais com seus olhos e cérebro terrenos. Mas você pode - e deve - se lembrar, pode e deve falar de mim sem tristeza, você sabe que eu não gosto disso. E, Bielle, que absurdo é esse de você estar achando que talvez a tristeza combine mesmo com você? Que combina que nada! Você fica muito mais bonita sorrindo, sapeca e engatinhando pelo chão igual uma máquina - bebê the flash - e soltando igual a uma gralha o primeiro nome que você falou: "Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho!Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho! Inho!". E tinha como ser outro?
       Já que você resolveu me dar tal honra ainda bebê, resolveu ser pentelhinha a infância inteira fugindo dos meus beijos e carinhos e querendo me enciumar indo beijar a Inha - você tinha que compensar a desfeita com ela também, né? Hahaha, mas está tudo certo, já passou.
       Sua doida, Biribiu fafado, tenho visto que você está sabendo se cuidar muito bem e queria te dizer que eu também estou me saindo muito bem. Queria só que você tentasse levar as coisas com mais leveza. Todo mundo sabe que você nunca se encontrou no Balé, então nem tem como eu pedir pra você virar uma pluma... se alguém pedir isso é porque não te conhece... e não é até que depois você foi se aventurar pelo mundo do circo? Quem diria!
       Mas tente balancear melhor.... misturar com essa sua intensidade um bocado de parcimônia. De vez em quando é bom, né? Só não quero que você sofra muito...
       Na verdade, pensando bem, o que eu quero é que você sofra, mas que sorria muito mais. Sofrimento também cai bem DE VEZ EM QUANDO. E a tristeza realmente não te cai mal, mas a questão é que a felicidade te cai muito melhor, minha Cachinhos Dourados.
       Não se esquece, está bem? Mande beijos e abraços saudosos para todo mundo, quero sentir todo mundo muito bem. Amo vocês.
       Continue tendo bons sonhos.
       Te envio, além de todos aqueles beijos melados dos quais um dia você fugiu de pirraça, um amontoado infinito de lembranças nossas e da nossa família pra você matar saudades, estampar um sorriso gostoso ao acordar e ficar com o gostinho de quero mais - porque não acabou.
       Até logo!
       Ainda preciso assinar? Piada, né.
 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

nós

é aquele velho papo
de que quando a gente menos
espera
 
surge aquela leve falta de ar
cheia de despropósito
aquele frio na barriga
que você nem sabe donde vem
a vergonha e a graça,
repentinas
 
e já estamos envoltos
naquela vulnerabilidade,
nus,
à mostra,
presos por nós cegos,
poderosérrimos
 
que enlaçam
os amantes de ontem,
apaixonados de aujourd'hui
amarrados e prisioneiros
de nós
(mesmos)

(dife)lentes

hoje fui a primeira a levantar e resolvi aproveitar a raridade do episódio: deixei você na cama, dormindo todo troncho, todo bronco, espaçoso; de bruços e na diagonal. deixei você e fui saindo de mansinho, bem na ponta do pé.

eu tava planejando deixar um bilhete na geladeira com uma marca de beijo - é, daquelas bem bregas, eu sei. do batom de ontem à noite - aquele que você tanto gosta, sabe chéri?

mas, antes de sair do quarto... enquanto eu tava catando minhas roupas pelo chão - bagunça óbvia da paixão de algumas horas atrás -, vi sobre a sua escrivaninha os seus óculos charmant que eu tanto gosto. e deixei a breguice de lado e mudei de planos: coloquei seus óculos e fui me aventurar por aí.

acho que foi a ânsia de te conhecer mais que me moveu. queria ver tudo através das suas lentes; absolutamente tudo, chéri.

fui me perdendo por ruazelas; ruazelas que nunca existiram pra mim. acabei descobrindo uma nova cidade. e me apaixonando. por ela e por você. cada vez mais.

olha!!! essa simples formiga passando aqui pela calçada com as suas companheiras: ela tem cor, forma, tamanho e nitidez diversa das minhas! os montes, as praias, as pessoas... existe um mundo inteiro novo pra mim e só seu, bonito.

aí parei na esquina de uma dessas ruazelas, bem debaixo de uma árvore que denunciava que era outono. fiquei olhando as folhas caindo e e me benzendo toda. folhas benditas, benzendo o nosso amor.

comecei a fazer acrobacias na árvore, fingindo que os galhos eram um tecido acrobático e achando força de nem sei onde.

desci igual macaco - ou igual criança feliz, fique à vontade escolhendo a comparação que mais te agrada; sorriso de ponta à orelha, toda satisfeita..

era tudo tão diferente: quem de nós dois ve certo? e quem distorce? e quem se importa?

se nós dois falamos que o céu é azul e o seu azul é o meu vermelho.. quem se importa, chérie? se concordamos que noite passada tava frio e o seu frio é o meu calor, e daí?

a melhor parte do céu não continua sendo observá-lo com você entre beijo-mordidinhas? e a do frio, poder entrelaçar os pés e as almas naquele friozinho depois de um foundue esperto? e quando tá calor, não gostamos de tomar aquele banho frio no meio da tarde quando o termômetro caprichar?

o estranho pra mim é que você cura o seu calor - que você chama de frio - com foundue e amasso e o seu frio, com banho gelado no meio da tarde... quem se importa?

cada doido com a sua mania, não? cada doido com as suas cores. com suas sensações. e companhia.

me apressei em voltar pra sua casa e deixar o meu óculos em cima da sua escrivaninha pra você experimentar o meu mundo agora. topa, chéri?

vulto em pedaços

ontem à noite, o quarto tava meio sombrio. dormi com medo, contando carneirinhos e torcendo pra pegar logo no sono, pra me transportar pra um outro mundo, um mundo que não doesse. um mundo em que os risos macabros imaginários e os toques fantasmagóricos alucinógenos não me torturassem. de repente, pelo menos ontem, eu acho que o papai do céu olhou por mim e então me fez cair no sono, ainda que temporário. mas sonhei com você, mulher bonita e arrepiante. na verdade, nunca pude ver seu rosto, só vejo o vulto, mas sinto a sua beleza, ela me toma toda. e até uma certa alegria, sabia? engraçado, não foi nenhum pouco medonho sonhar com o seu vulto. não foi a primeira vez e acho que está ficando cada vez melhor. o quarto é vermelho sangue, as luzes estão um pouco apagadas e o vulto passa. uma. duas. três vezes. não me amedronta. é que você é quase feliz. um vulto feliz. acho isso engraçado. é que, quando criança, filha única, medrosa, eu costumava ver vultos. morria de medo, como você pode imaginar. então cresci ligando uma coisa à outra: o medo e os vultos. acontece, né. ah, esqueci de explicar. desculpa, eu sempre me embaralho com as palavras - não só com elas, mas também com todo o resto. eu disse que você parece quase feliz. sabe por que quase? é que eu sinto uma coisa quebrada em você. pelo visto, não é um quebradinho qualquer. e você deu uma meia dúzia de remendos que costumamos dar em nós mesmos, sabe? é normal, você não é a única. só que, moça, acho que tá na hora de tentar consertar... chama um técnico logo! ou uma costureira, um eletricista, um psicólogo... nem que seja um faz-tudo, alguém tem que resolver! seu remendo não deve segurar por muito tempo. eu, que nem te conheço, que nunca fui apresentada a você, acessei a sua dor em 3 quase-aparições suas - nem aparições foram, né, afinal você é um vulto, só saiu correndo, bem rápido. não dava nem pra ver o seu semblante direito, você não tinha foco algum. só notei uma silhueta humana, quase toda escura, negra. a única parte distinguível era o rosto, um cinza claro esbranquiçado. mas não sei direito, você passou rápido demais. era pra ser assustador, moça, eu sei, mas eu te entendo.  acho que você não tá acostumada a não causar medo nos outros, não é? presta atenção, vou deixar essa carta aqui do lado do meu travesseiro - é que suspeito que você me visite de tempos em tempos. se você chegar a ler, espero que aceite meu convite pra uma aparição mais lenta, menos desfalcada. pode ser? quem sabe eu te ajudo a colar a sua parte quebrada.. e você? você pode me fazer parar de ter medo do escuro, ainda que acordada. ia ser ótimo nunca mais ter que apelar para os carneirinhos..

carcaça

pensava ter cansado
de ser triste
mas acho que afinal estava enganada

quem sabe a tristeza
não cai mesmo bem em mim?

acho que sou uma carcaça de gente
sobrevivendo como posso
cada vez mais ciente
das patologias
(minhas e do entorno)
transbordando dos tantos diálogos
religiosamente diários
entre eu e mim mesma
tudo interno, aqui
sem soltar um som sequer
no máximo aquele clássico "não é, gato?"
quando um dos meus filhos felinos me observam
preocupados
como se entendessem a complexidade de tudo isso

sou um arcabouço,
um esqueleto
uma armação completamente vazia..
nem sei de onde vem o
         fô-
     lê-

e os batimentos cardíacos

sou aquele calabouço triste dos meus sonhos
negro que só ele
de uns 50 mil metros de profundidade..
cheio de falhas
e abandonado

uma carcaça que ninguém nunca conheceu
que aprodrece mais de hora em hora
e passa pelos rostos alheios
como o grão de areia voa pelo vento:
quase imperceptível

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

formigamento

ei, chérie
você aí
espremida
abraçada nos lençois
desprendidos da cama
toda encolhida
com as lágrimas caminhando len-ta-men-te
pelos olhos, nariz, bochechas, boca

cheira o pano
puxa forte o aroma
dos nossos corpos misturados
de ontem à noite
puxa como o drogado puxa a droga
querendo eternalizar aquele entrelaçado
repassando cada cena
do nosso balé-ufc da noite passada
sua cocaína

e já nem sabe se sente medo ou não
se gosta ou se já adora
já nem tem a opção de optar entre
se entregar ou não
sua posição aí nessa cama já te denuncia
de lado, abraçada aos joelhos, embaralhada entre os lençoís
você acha que eu não sei?
nem precisava das lágrimas pra te sacar, chérie

enquanto isso,
to indo deitar por aqui
sem muito drama
(essa parte deixamos pra você)
mas confesso
que to com o corpo ainda formigando de você
dos pés à cabeça
opa, e as idéias também

durma bem, chérie
e até breve

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

arco-íris

você ri tão gostoso, amiga
franze o nariz com um charme que é
só seu
à la sienna miller

e seus cabelos,
como são lindos!
poderia me esconder embaixo
deles
por dias
sempre que quisesse fugir
desse mundo real e tedioso
que não parece
com você
em nada

que aparece pra mim
sempre em cores vivas
mesmo quando está vestindo
branco, preto ou cinza
não importa

é que de você transluzem
uma série de raios

verdes
que me enchem de esperança
e me orientam a seguir a vida
com menos desespero
já que pelo caminho
podem existir
uma meia dúzia de pessoas
como usted
que já valem
toda a caminhada

e alguns raios azuis
que me tranquilizam que só
eles
me passando confiança e um bocado
de sabedoria

isso sem falar nos raios amarelos
oriundos tanto do reflexo dos seus
fios loiros
quanto do seu sorriso
que
embora composto por dentes branqui-inhos
me transmite uma alegria
dourada

afinal
acho que você
é um arco-íris pra
mim
esse fenômeno
curioso
que surge entre meu sol
e umas gotas d'água
em muita ou pouca
quantidade
e ofusca
os assuntos e afazeres do dia
pelo excesso
de graça e beleza

terça-feira, 31 de julho de 2012

tempero

sinto como se meus ossos
tivessem sido
soldados
com chumbo

é que o peso da vida
insatisfatória
tem me
incomodado
bem mais do que o habitual

talvez o meu genitor
aquele cara grisalho nos
poucos fios de cabelo que
lhe restam
bem esteja certo
realmente
eu nunca esteja satisfeita
- a palavra não faz parte
do meu vocabulário 
prático

mas não deixo de me perguntar
se eu deveria mesmo
satisfazer-me

a custo de que, genitor?
de me acomodar
e me adestrar a encontrar
satisfação e realização com
meios e ocasionais
sorrisos, danças,
canções e orgasmos?

eu gosto de vento na cara
de gente, de pele
de terra, de bicho
de solidão, de mim
de tudo em dose alta, bem forte

- capricha na pimenta, garçon
e pode trazer a caipi com bastante vodka

é isso que me move, que me mantém

segunda-feira, 30 de julho de 2012

sussuro


o cd da billie holiday ta rolando bem alto logo ali no som do quarto e eu to bem aqui na minha cozinha americana (adoro essa idéia de cozinha americana, por sinal, quem inventou isso é um gênio) abrindo mais um vinho tinto pra nós dois. dessa vez, ele é suave - o anterior era seco, conforme combinamos, já que você é mais fã desses, enquanto eu prefiro aqueles. assim, resolvemos sempre revezar.
minha fala já ta tardando um pouco, estou emitindo os sons mais lentamento do que penso fazer em minha mente e acho graça disso, acho gostoso ver as minhas idéias começarem a se embaralhar em em.. agora mesmo ri de alguma coisa que você disse e me esqueci de uma outra que eu tava louca pra te dizer, droga. te digo isso e você me dá um risinho gostoso, me puxa pra você, me envolve em seus braços e diz bem baixinho no meu ouvido direito: "sem problemas, você me diz quando lembrar".
e, lá no som, começa a tocar blue moon - perigosa..
nossos olhares se encontram; no ar, faz aquele silêncio apesar da música em bom som e eu desvio o meu meio tímida e tomo um gole grande do vinho sem nem pensar.
você levanta do banco e me envolve de novo com seus braços, dessa vez arriscando um passinho pra lá e outro pra cá. eu trato de aceitar o convite da dança, ainda segurando a taça, e deito minha cabeça no seu ombro, me encaixando gostoso e sorrindo toda por dentro..
eis que você, de repente, me surpreende acompanhando a musa na canção:
  
"...and then there suddenly appeared before me
the only one my arms will ever hold
i heard somebody whisper, "please adore me"
and when i looked, the moon had turned to gold..."
e aí eu te olho sapeca de baixo - pela diferença de altura - e a gente se beija, meio caindo e meio se jogando no chão, e rindo, como sempre.
então, seu braço direito foi deixando de me envolver pra que sua mão pudesse se concentrar em ir subindo o meu vestido preto e baixando a minha meia calça de pois.
e eu, derrubei no chão a taça com o vinho que tanto adoro e nem liguei.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Desaparafusada

Chéri,
mon appétit
de toi
cresce cada vez mais

Parece que você
tirou de mim todas as minhas papilas
gustativas
e guardou tudo só pra você
egoistamente
de forma que eu
maintenant
fiquei desprovida de tal importante sentido
cadê meu paladar, seu doido?
já nem sinto mais os gostos alheios

Além disso,
você passou batido,
mas acho que levou
contigo,
além de tais papilas que me fazem uma falta tamanha,
talvez na nécessaire junto com sua pasta e escova de dente
do lado direito da mala
bem esmagadinha
alguns vários parafusos meus
me diz, e o que eu faço agora?
agora ta tudo solto e perdido por aqui!

Você ri quando eu te digo isso,
quando reclamo do estrago que fez em mim,
mas só pode ser, chéri!
o que mais explicaria?
se eu não to doidinha, eu to o que?

Você não fica pra trás na loucura
e sabe que bem foi isso que me atraiu
em toi..
ah, e o seu francês e italiano falados tão bonitos, claro
que foram responsáveis pelo meu derreter
por inteira

Esparramada, te observava
guardando em minha mente
o quão inacreditável você parecia

E eu nem gosto de cigarros
eu chego a detestá-los
inclusive, vivo implicando
com todas as pessoas queridas por mim
que cultivam tal hábito,
sou uma chata pedindo para que todos abandonem o vício

E lá tenho os meus motivos pra isso
como já te disse, por sinal,
mas os seus combinavam tanto contigo
e até gostei do sabor deles em sua língua
- antes de você levar de mim as minhas papilas gustativas, claro -
e o cheiro deles nem chegou a me incomodar
é que vocês mesclam bem
sabor, cheiro e corpo
e nós, melhor ainda

Outro dia,
você,
charmant,
depois de ter confessado
o seu ato criminoso
entre risos,
como se isso fosse alguma espécie de brincadeira,
me perguntou se eu queria
que devolvesse
os meus faltantes parafusos
que agora estão por aí
na sua mesinha de cabeceira
do lado do seu relógio
entre o cinzeiro
a taça com um restinho de vinho de
ontem à noite
e o pacote de camisinha

Eu só ri
e fiquei pensando na resposta
porque,
ao contrário do que parece,
ela não é tão simples assim

Será que eu quero?

Por um lado,
devo estar dando uma de maluca agora
me entregando assim
você pedindo apenas a minha mão
e a beijando
e eu entregando logo tudo:
os braços apressados
o pescoço torcido
a boca salivando
as pernas entrelaçadas
o abdômen
as coxas
e todo o resto

Por outro,
que chato estar toda aparafusada!
perco a mobilidade,
uma vez que a previsibilidade
- essa chata -
toma conta de mim
se instalando por inteira

Mal posso me mexer,
os parafusos não me dão espaço!
não permitem uma abordagem diferente,
um abraço um pouco mais requintado
ou uma curtição fora dos padrões

Os parafusos me prendem a uma espécie de cardápio
como se eu tivesse apenas algumas opções
tanto para servir quanto para ser servida

E o meu restaurante
repleto deles
não cozinha nada que esteja fora do cardápio
e com muita dificuldade, por sinal,
se consegue trocar o arroz branco
por um arroz de brócolis

É porque vem tudo bem planejado, contadinho, sabe?
as compras, os garçons, as reservas, as bebidas
e tudo mais
são todos calculados

Não é assim como os clientes pensam que é
uma troca simples
é bem mais complicado do que parece, entende?


Mas...
sem os benditos parafusos,
sou outra
e meu restaurante não tem regras
nem a minha casa
nem as minhas roupas
nem a minha pele
nem a minha fala
e muito menos
as minhas coxas
boca
dentes
e vontades

Sem estar regrada,
funciono como bicho
apenas sigo os meus instintos,
meus desejos

Mais do que seguí-los,
neles me transformo
e faço o que eu tiver afim e pronto

Afinal, acho que dispenso os parafusos
você nem saberia colocá-los de volta, saberia?
pelo menos não sem machucar-me
como você pensa em devolvê-los a mim?
pensa em martelá-los?
isso é loucura!
pois que não os roubassem então!
imagina se eu aceitaria que você martelasse
meia dúzia de parafusos em mim...
não estou desaparafusada e louca o suficiente para permitir tal contra-senso!

E você sabe bem que só não os aceito de volta
exclusivamente porque
o processo de devolução seria deveras doloroso, não sabe?
não tem nada a ver com a mobilidade que você me mostrou que eu tinha, espero que esteja consciente disso
muito pelo contrário,
sou muito certinha e prezo muito pelas regras,
apesar de um bocado irônica

Pois que pensasse antes
de, enquanto eu dormia,
me desregular toda
agindo com tal dolo
e ainda por cima
me acordar balançando-me
como um louco!
chacoalhando minha cabeça toda
como quem quisesse realmente
garantir tamanho estrago

Depois me beijastes com todo o fogo que tens
dentro de ti
e me deixastes na cama
com o cabelo bagunçado
semi-nua
vestindo apenas aquele sutiã preto
rendado
e uma blusa social tua toda desabotoada
porque a calcinha você já tinha tratado de tirar
mais cedo
enquanto eu dormia
pra me despertar daquele jeito

E me deixastes assim
clamando por mais
mais de ti e mais de nós
toda desamparada
e desaparafusada
onde já se viu isso?
que desplante!

E fostes!
simples assim
me deixou chupando o dedo
toda doida
doida toda
esperando por toi,
le charmant

terça-feira, 3 de julho de 2012

tânia

- A Tânia, sabe?
aquela morena dos longos cabelos negros
a audácia em pessoa
falada por todo o bairro
simplesmente não há quem não repare
Ela é desejada por todos
está sempre cercada de suspiros
e olhares
E, ainda assim, tão solitária
Quando chega em casa e joga as roupas
pelo chão
aumenta o som
e entra naquele banho
gostoso
deita no box
e observa a água caindo
em seu corpo
viajando por suas
curvas
respira fundo
relaxando pela primeira vez
no dia
Quando enfim acaba,
deita nua na cama
afinal
pra que roupas quando se está sozinha em casa?
E se põe a sonhar
acordada
em meio a suspiros e gemidos
não com um príncipe encantado daqueles
que querem fazer todas as suas vontades
pagar todos os seus luxos
e fingir que escutam todos os seus problemas
só por quererem se
apossar
de um pouco daquela sua beleza
tão grande, mas tão passageira também
Ela quer é um cabra macho
e é com ele que Tânia sonha acordada
alguém que não a trate como porcelana
que a segure pela cintura
que a puxe pra ele
e mande bastante em vez de
só obedecer




segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cores falantes

Hoje acordei vermelha
em chamas
e fui logo procurar
algo que bem representasse
meu humor
pelo armário
Sabe o que é?
é que eu me visto de cores
ontem por sinal gastei o branco
à toa
nem estava tão pacífica assim
Há também certos dias
confesso
que meu humor vai mudando
se alterando
conforme o decorrer
das horas
e no fim do dia
mal entendo a blusa
amarela
em contato com
minha pele
Amarelo?
mas me sinto completamente negra agora!
e apresso-me a me despir
e tirar de mim
tais falsos sinais
em forma de roupas
Se quer saber
como me sinto
melhor do que perguntar
é observar
Simplesmente
veja minhas vestes
o que elas te dizem?
Quase sempre elas
me traduzem melhor
do que um bocado de meias frases
meio tortas
e mascaradas

pontuação pra quê

chega rindo à toa a menina conclui que talvez tenha bebido vinho demais mas sinceramente nem se importa só demorou um bocado para encontrar as chaves em sua bolsa e mais ainda para abrir a porta a maçaneta parece muito pequena para aquela chave e ambas ficam a discutir um bocado antes de se encaixarem e a menina bebinha conseguir abrir o portão entra sobe as escadas com sua saia longa e um lenço na cabeça olha para o rapaz bonito que a acompanha e fica pensando que hoje ele está mais bonito ainda os dois riem quase tropeçam um no outro e ela disfarçando a quase queda se aconchega no último degrau do primeiro nível de escadas e diz para ele que não tem forças para chegar no quarto andar como quem já já vai bater os pézinhos ele ri acha graça e se encanta mais ainda pela namorada manhosa então levanta ela e a coloca de cabeça pra baixo apoiada em seus ombros subindo escada acima ela reclamando enquanto ri e bate em suas costas ele sorriso estampado parecem dois pombinhos chegando na noite de núpcias a dona rita vizinha chata do 302 desce com seu cachorro e olha feio para aqueles jovens na flor da idade no auge da vida e tão apaixonados e eles nada incomodados dão a ela um bom dia e dois sorrisões estampados no rosto como quem pensa em disfarçar a descontração e depois se pergunta por que disfarçar e desiste aceitando os juízos de valores alheios afinal essa dona rita não incomoda tais jovens corpos e principalmente jovens espíritos agora a questão é mais conturbada ainda ele tem que encontrar a chave da porta do apartamento e abrí-la com as doses do vinho subindo à cabeça e com a sua amada ainda dependurada de cabeça pra baixo apoiada em seu ombro direito mas até que ele tá se virando bem e ela continua batendo em suas costas com os punhos fechados e cada vez rindo e gritando mais me solta ela diz vai amor me solta e eu mera expectadora tinha dito antes que os dois pareciam recém-casados né e agora pergunto por que pareciam e não são não há nada que desconfigure a condição deles de pombinhos em noite de núpcias a não ser o pequeno e ínfimo fato de que não se casaram hoje mas quem se importa eu não e nem ele e nem ela portanto declaro os dois casados para os fins de que tenham a sua noite de núpcias de hoje como bem merecem

domingo, 17 de junho de 2012

como se

engraçado
depois de tantos anos
existem momentos
que parece simplesmente que nós dois nunca nos desfazemos

e até parece que seu gosto nunca saiu de mim
que seu sorriso nunca deixou de habitar meus sonhos
que nossas mãos nunca ameaçaram dizer um adeus sequer

é como se esses anos mal tivessem existido
como se tivéssemos ficado sem nos ver apenas no dia de ontem
e hoje tá tudo certo, tudo igual
eu e você, juntinhos

estamos avistando o mar
entre brincadeiras na areia
e beijos-mordidinhas
e fazendo planos para as próximas horas
ou para as próximas férias

sinto como se eu sempre tivesse sido sua
e você, só meu

sexta-feira, 15 de junho de 2012

louquinha, louquinha

seus olhos
me infiltram
me secam
me adentram
e me tomam de um jeito

que saio pelo salão
quase possuída
num rodopio sem fim
rasgando minhas vestes
esfeitiçada por uma loucura gostosa

acompanhando o som da música ao fundo
eu giro
invadida
bagunço meus cabelos
perco um pé no outro
uma mão, na outra
um movimento nos demais..
eu giro, giro e giro
até ficar tonta
to-da ton-ta

e aí, enfim,
me jogo no chão
me derrubo
escancarada
e rio te encarando

e você
vem se chegando
e se aconchegando
nesse salão gigante e só nosso
deita juntinho, quentinho
me dá um sorriso de volta
e me lança apenas um
"oi, bom dia"
denunciando quão louca
você pensa que sou..

sábado, 26 de maio de 2012

comme musique

je marche dans la rue
peu importe dans quelle direction
ce type de chose n'importe pas
quelque fois, je même me perds
en pensant à toi

avec les écouteurs dans mes oreilles
tout à coup
je suis à l'interior de nos musiques

sais-tu, mon amour?
ce que, dernièrement, tous les chansons d'amour
sont devenus nos
mes et tes
simplesment
parce que elles parlent de l'amour

et moi et toi,
soudain,
nous sommes devenus les sujets principaux
de toute la existence

peso

ultimamente tenho me sentido muito pesada
talvez pelas cargas
de expectativas postas sobre mim
tanto pelos outros
quanto - e principalmente - por mim mesma

além disso
tenho sentido uma dificuldade tão grande
de saber o que eu quero
de notar em que direção estou indo
o que tenho buscado

tenho
por isso
ficado nesse marasmo
nesse limbo
o famoso "não fode nem sai de cima"
sim, acho que estou nessa
e vejo,
vindo de longe
mas se aproximando
cada expectativa
cada sonho
dos outros pra mim
meu pelos outros
dos outros por mim
de mim pelos outros
de mim para os outros
dos outros comigo
de mim com os outros
meus com os outros
ai, que confusão!

infinitas cargas
que me aflingem
mais e mais

não sei se correspondo a isso
e mais
mal sei se quero isso, Deus

de repente,
me vejo com a vida traçada
de-ta-lha-da-men-te
cada passo
pré-determinado

agora só depende de mim
é o que dizem

o que depende de mim?
corresponder, simplesmente?
ao que esperam?
ao caminho que eu ameacei traçar,
mas mal conheço?

como sou criança...
uma doce menina
que ontem mesmo
brincava de bonecas
escrevia bilhetinho na sala de aula para as amigas
sonhava que o menino mais bonito da sala
era também o meu futuro príncipe encantado
achava que a vida era assim, simples
acreditando nas palavras que meu pai dizia pra mim
em voz suave
naquele tom de amor
carinhosamente
nos meus ouvidos
"filha, você pode ser qualquer coisa que quiser ser no mundo"

quem dera tudo fosse tão simples
e bastasse chegar em casa chorando
pra resolverem tudo pra mim
confortarem minh'alma e coração
e me deixarem nova pro dia seguinte

quem dera

a adolescencia chegou e passou
- época terrível -
e as responsabilidades que chegaram
não mais se vão
o tempo não volta
e não pára
não da pra voltar atrás, baby

acho que o peso que tenho sentido
afinal
até que está bem justificado



quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Amor?"

Cansada de brigas, desligo o celular porque hoje quero tentar dormir tranquila. Como o sono não vem fácil assim, ligo a TV e, por acaso - ou não -, no GNT ta passando aquele documentário chamado "Amor?". Decidi assistir.

Não tinha sido a primeira vez que o assisti, apesar de sempre pegar o filme no meio e ir descobrindo uma nova parte dele toda vez que tá passando pela tv. Contudo, dessa vez foi diferente, a coincidência do documentário estar passando naquela hora, depois de tanto desgate, me fez pensar e, mais do que isso, analisar o meu próprio relacionamento amoroso.

Para quem não sabe, o documentário fala sobre o limite entre o amor e a violência, tratando de relatos reais nos quais a face violenta da paixão foi se mostrando nas relações amorosas em questão. Não se trata se um documentário sobre violência doméstica simplesmente, tendo por objetivo a análise dessa fronteira: afinal, onde acaba a paixão e onde começa a violência?

A princípio, nos deparar com essas histórias de ciúmes, culpa, dor e poder excessivos em meio a relacionamentos de pessoas comuns, de classe média, que aparentemente poderiam ser nossos pais, irmãos, vizinhos, amigos, acaba nos assustando um pouco. Normalmente, não atentamos para o fato de que na nossa casa ou, de repente, no nosso prédio, diariamente estão sendo escritas histórias sobre violência moral, psicológica e física nos relacionamentos amorosos. A maneira que essas pessoas deixam que tais sentimentos doentios se externalizem em violência de todo o tipo parece estranha a nós, nos assusta. Como é possível perder a cabeça dessa forma? Aí que se encaixam, inclusive, os crimes passionais, frutos desse momento de desespero que leva à erupção da violência.

Como explicado por João Jardim, diretor do filme, o documentário não é simplesmente sobre a patologia em questão. O que o interessou foi o lado do amor que seria o peso que, contraposto ao da violência quase diária, ganharia a batalha a cada vez que a vítima (e será que existe vítima strictu sensu numa situação dessas?) analisava se deveria ou não abandonar o barco já repleto de furos - mas afinal, até quando esse baldinho de kit de praia infantil vai dar conta de tirar essa água que não para de entrar no barco? Até quando vou precisar fazer esse esforço praticamente ineficaz em prol do "amor"?  

Na minha humilde ignorância sobre o assunto, desconfio que os agressores desses referidos relacionamentos não necessariamente sejam apaixonados pelas pessoas objetos de seus ataques de fúria, de suas tentativas de anular auto estima do outro e da própria violência física, mas sim apaixonados pelo drama.

Há algumas semanas, saí para beber uma cerveja com uma sábia amiga minha e, durante a análise do comportamento aparentemente incompreensível de uma terceira, também minha amiga, ela disse que a tal menina parecia ser viciada no drama.

De fato, fazia sentido. Tanto fazia que, por ser assim, a tal menina estuda Cinema hoje em dia.

A cerveja até esquentou de tanto que conversamos, mas a conversa acabou e isso ficou na minha cabeça.

De fato, tem gente que é viciada no drama. Olha, não to falando de gente que reclama diariamente do trabalho, do namorado(a) ou do tempo - isso pode ser só mal humor, cansaço ou chatice, males do qual eu e metade do mundo também padecemos. Eu to falando de vício em drama mesmo, naquela pessoa que está sempre definhaaando, sofreeendo, amaaando de paixão e se descabelaaando por aí.

Agora vou voltar pro começo da minha história pra tentar ligar uma coisa na outra: bem, como eu disse, já havia visto o filme algumas vezes, mas dessa vez eu percebi que estava inserida numa relação violenta.

Assim como tendemos a nos assustar quando pensamos que existem relacionamentos amorosos muito violentos acontecendo agora em meios muito próximos a gente, temos dificuldade de perceber que estamos  inseridos numa situação dessas.

Quando há violência física, acredito que o tempo necessário para "a ficha cair" seja menor, até porque os outros tipos de violência são pouco tratados na nossa sociedade. Se uma amiga sua te diz que o namorado bateu nela, você e qualquer pessoa logo vão se revoltar e dizer que ela não pode aceitar isso, que precisa terminar e todo aquele discurso o qual já conhecemos bem. E se ela te contar que o namorado a insultou, a humilhou? Nem todo mundo vai dizer de cara que ela precisa sair dessa. É capaz da pessoa até tentar melhorar a situação do cara, dizendo que ele podia estar de cabeça quente pelo motivo X ou Y e que ama muito ela, por isso ás vezes acaba se comportando assim.

Apesar de pouco apresentada na nossa sociedade, a violência moral e psicológica pode provocar tantos danos quanto à física - as cicatrizes podem, inclusive, ser mais profundas, dependendo do caso. O olhar de censura e as alfinetadas do começo do relacionamento vão ficando cada vez mais frequentes e o desejo de humilhar e ofender o parceiro acaba, eventual e gradualmente, por destruir a auto estima deste que, consequentemente, se deprime e se culpa.

Decididamente, o excesso de controle, manifestações de poder, ciúmes excessivos e ameaças, entre outras coisas, não são características de um relacionamento minimamente saudável, constituindo patologia. Quando finalmente absorvermos isso, poderemos, a partir daí, repelir tais comportamentos, afastando os relacionamentos que nos agrida com tal violência de nossas vidas e, de repente, até do dia a dia de pessoas próximas, através de conselhos em meio a um desabafo de um amigo.

Resumindo, definitivamente, não é porque o cara - ou a mulher, quem disse que só o homem tende a agredir nesse sentido? - não te deu um tapa que o caso/namoro/casamento de vocês não é violento.



quinta-feira, 10 de maio de 2012

sim, esse é pra você!

você pega,
aparece na hora certa
e me estende a mão,
o braço,
o ombro
e o que mais for!

me consola,
me ouvindo falar
de um outro amor
organiza minhas idéias
vai cicatrizando minhas feridas..

e me convence,
depois de terem
quase que anulado
a minha auto estima,
que eu mereço mais

meu bem,
aqui,
nesse poeminha-recado,
sem pretensão de ser poesia,
eu queria só te dizer
um obrigada

sábado, 21 de abril de 2012

cão e gata

você
e
eu

por vezes, um
depois do café, rivais
entre o cinema e o jantar, amigos
antes de dormir, amantes
nos domingos, namorados
às segundas, mal falamos
às terças, apaixonados
às quartas, você entrava uma briga
às quintas, inimigos
às sextas, affairs novamente
- e aos sábados?
- depende da semana..

5 sentidos

hoje,
embora um dia
como
outro qualquer,
o quarto
parece estar

a   i   n   d   a

m  a  i  s

vazio.


é sexta-feira
e
os meus
sentidos
se direcionam
todos
para você.

seu toque,
ainda em minha pele..
- epiderme coberta
de você -

seu charme,
em forma de
pintas,
ainda domina minha visão..
é tudo o que eu vejo

sua voz
doce
misturada
com o som
do seu
violão
fez residência
em
meus ouvidos
escuto vocês
all
day
long..

seu cheiro,
já entranhado
em
minha
tona,
nariz
e cabelos
- por todos
os fios - ..

enfin,
seu gosto
ficou
no
meu paladar..
qualquer
coisa
que eu
beba
ou coma

não apaga ele de lá.

segunda-feira, 12 de março de 2012

sapatos desamarrados

abro a porta
e o tempo pára
os relógios se desligam
automaticamente
você
eu
nossa cama
sapatos desamarrados
pelo chão
luz apagada
e ainda assim
vejo tudo!
enxergo seu rosto
com minhas mãos
meus dedos passeiam
por suas marcas
por cada pinta
estudando
uma a uma
todas as suas
incertezas
e nos dividimos
entre
olhares
carinhos
e sorrisos

você, de casa

você tem gosto de amigo
rosto de abraço gostoso
cheiro de longa data
ainda que tenhamos
nos conhecido
agora há pouco

sua risada parece familiar
seus olhos entram em mim,
assim, sem nem pedir licença
como quem se sente em casa

nossas conversas
noite a fio
tem um som de rio
e fluem tão bem
quanto eles

domingo, 4 de março de 2012

brincadeiras de criança?

com nossos vinte e poucos anos,
achamos que já somos adultos

mas ainda brincamos de
pigue-pega
cabra-cega
gato-mia
vaca-amarela
polícia e ladrão
e peteca

falamos e não dizemos nada
ou optamos pelos códigos

todos secretos,
sem legenda
justamente para que ninguém entenda

fechamos os olhos para que
se escondam de nós
contamos até vinte para
irmos atrás

tampamos os ouvidos
vendamos os olhos
e a boca

nos declaramos debaixo d'água
na piscina do prédio
sabendo que o outro não vai entender,
mas torcendo para que entenda

aparecemos,
soltamos o riso
e quando alguém vem atrás de nós
logo corremos
fugimos
e nos escondemos
dentro de nós mesmos..

ah, o esconde-esconde!
quanta nostalgia!

crescendo com essas brincadeiras todas,
como poderíamos agir diferente também?!

e agora,
topa uma amarelinha?!

rascunho de carta

Recorri ao papel para ir ao seu encontro. Sei que não posso, não devo, mas quero... quero ir até você porque você me acalma, porque conforta o meu coração, porque me faz sorrir por fora e por dentro...

Mas quem é você? Mal te conheço...

Você diz que somos iguais, que tem sonhado comigo até na soneca da tarde. Diz que eu sou linda e que me guardou contigo... e me deixa sem palavras.

Ás vezes, não se basta querer ficar junto. Ás vezes, simplesmente não devemos, simplesmente não podemos. Será que, no nosso caso, um dia, passaremos a poder? E mais... será que o que de platônico que a nossa relação tem que é a graça da mesma?

Será que só por isso eu o julgo tão perfeito? Só porque não posso ter você?

Até conheço alguns dos seus defeitos, você fez questão de me dizê-los, mas eles só me atraíram ainda mais, bonito.

Olha, acho que o que eu mais gosto em você é que, assim como eu, você é um bon vivant. Você sabe viver, ao menor na teoria.

Acho que a única coisa que te falta é um parafuso a menos e um empurrãozinho a mais.

Paremos de nos culpar, que tal? Não façamos mais uma tempestade em copo d'água.

Combinamos demais, queríamos demais, foi isso, aconteceu.

Hoje o dia acabou e nem falei contigo, nem te vi. Não quero mais que seja assim.

Engraçado? não ficar com você eu suporto - até relativamente bem -, mas não ouvir/falar/ler você me mata.

desabafo

Falar ou não falar? Começo a digitar e apago todas as palavras antes de enviar, repetidamente. Não é medo não, é cansaço, fraqueza. Tem tanta coisa que eu queria te dizer, mas vale a pena? Vale a pena remoer essa historia pra tentar te fazer acreditar em coisas que provavelmente você não vai acreditar, que o seu orgulho não vai deixar?

Há quem diga que o importante é tentar e eu, de fato, sei que as pessoas costumam se arrepender mais do que deixam de fazem do que propriamente do que fazem. Mas será que tentar é mesmo o que importa? Será que é sempre assim? Eu acho que ás vezes tentar só piora. Sabe... há momentos na vida que você fica na posição de malvada e ponto. Quem nunca passou por isso?

No meu caso, com você, a "vítima" - se que que existe uma - da relação sempre fui eu. Você que sempre teve muitas dúvidas, muitos poréns..

Honestamente, não é pra me defender, mas acho que um erro não devia apagar todos os acertos da pessoa.

As pessoas erram, são humanas. E isso sempre foi o que eu usei pra "perdoar" as suas mancadas. Mas você não fez o mesmo.

Bem, nossa relação já estava fadada ao fracasso depois do tempo que passamos separados.. Acho que da sua parte, era mais fogo de palha, do tipo que não sobrevive ao tempo... Mas isso acontece, não te culpo, nós, humanos, vivemos nos enganando a respeito dos nossos sentimentos.

Só gostaria que você tivesse me dito isso, na época.

Não sei se eu estou sendo injusta, mas acho que ás vezes parece que os homens se acomodam mais nos relacionamentos do que as mulheres. Mesmo quando vai mal, a mulher que tende a pôr um ponto final - pelo menos nos meus casos e nos de meus amigos.

Se você está num relacionamento com uma mulher legal, que não te controla e que faz tudo pra você, pra que jogar isso fora?

Realmente, o pensamento parece sensato, mas as mulheres, normalmente romântica que só elas, querem mais ROMANCE, mais ARREPIO, mais SURPRESA, MAIS, MAIS, MAIS!

Bem, a questão é que, no nosso caso, você queria tudo: eu e todo o resto!

Tive que cortar.

E você, não apagou meu erro, guardou, exaltou, quis me fazer ficar mal e no início conseguiu. Mas depois chameu meu lado sensato pra um papo sincero e percebi que não era pra tanto... que ressentimentos, no âmago, todos nós temos, mas que ficar externalizando isso ás vezes é demais!

E por que eu estou falando isso, depois de tanto tempo? Porque sinto falta de você... de falar com você; de responder ao seu sorriso com o meu, passando rápido pelo corredor; das suas piadas sem graças, mas que fazem todo mundo rir... e de todo o resto!

Mas... também guardo ressentimento!  Queria jogar todos os ressentimentos e os pesos que ainda existirem da gente aqui, me livrar!

Penso se eu devia falar tudo isso pra você, mas acho que não, colocar isso no papel já é o meu máximo. Ás vezes, é melhor deixar pra lá.

Aos poucos, as mágoas se perdem no olhar dos outros, se dissipam enquanto o olhar indiferente - ou aparentemente indiferente, com um pingo de sei lá o que, de um mixto de sentimentos que já passaram, mas dos quais você não esqueceu - as substitui!

É... Confesso que eu pensei em apagar as letras digitadas aqui mais um vez, mas dessa vez eu enviei!

Falei, passou, é isso.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

pés emancipados

eu no salão,
no meu lugar,
entre uma cerveja e outra
um riso e outro
conversando com quem pela frente esbarrar
- afinal, quem gosta de samba,
mau sujeito não é! -

sorrindo para a banda a tocar
no palco
em minha frente

sorrindo e
simplesmente
a amando

por ela estar ali
fazendo eu me encontrar
no meio daquelas notas
com minha saia longa
e rodada
com meu cabelo meio preso
ou solto
- tanto faz -

tudo o que importa é o meu rodopiar

e mal quero saber se está bonito
ou feio
ou se agrada os olhos de quem vê,
uma vez que agrada o meu corpo
uma vez que meu sangue
está circulando tão bem

então
de repente,
meus pés são emancipados

antes da hora, independentes
sozinhos no salão
já não os controlo
saem dançando
se mexendo
- dois pra lá,
dois pra cá -
e eu vou junto
logo atrás

mãos na cintura
suor gostoso no pescoço
e busto

prendo o cabelo
e ele cai
faço que prendo com as mãos
- sem prender,
apenas segurando -
seduzindo você ou qualquer outro
apenas por seduzir
por brincar

porque hoje
ainda que fora de época
é carnaval

você vem
brinca com seu chapéu invisível
samba com um meio sorriso no rosto

pára, me observa
e me vê te conquistar
por hoje, pela semana, pelo mês
- nada disso importa -
tudo o que existe agora
sou eu e você
e esse salão
essa música gostosa
esses nossos corpos emancipados
sobre os quais nossas mentes
não tem mais poder
- e nem queremos que tenham! -

como é gostoso sambar
com você
juntinho

como é o seu nome mesmo?

e pra que falar?
nossos corpos rebeldes
dizem melhor
dizem por nós
quanto temos em comum

e você que está aí
a pensar
que por enquanto
eu e esse rapaz
só temos em comum o samba
já te adianto:
isso não é coisa pouca!

é com ele que vou dançar
até cair no chão
até ser expulsa do salão

simplesmente porque
meu corpo emancipado impede
que um desfecho diferente
ocorra

Enlouquecidamente racional

Durante minha sessão diária de auto-crítica de hoje, percebi como somos fáceis para algumas pessoas e difíceis para outras. Vou me explicar melhor para ver se me faço entender: ás vezes, facilitamos a convivência, a dança, a conquista, a amizade, os finalmentes e mais o que puder ser facilitado pra uma certa pessoa; outras vezes, dificultamos, encontramos desculpas, nos fazemos indisponíveis, criamos problemas no meio do caminho, traçamos labirintos e tudo o mais que possa embarreirar um amor, uma amizade, uma aproximação.. Por quê?

Tem gente que tem tanto pra nos dar, que quer tanto nos fazer feliz, nos ajudar e.... Não queremos! Simples assim! O cara pode ser bonito, gostar de você, saber cozinhar, te respeitar, te surpreender e... Não! Eu não quero! Crio problemas, invento quebra-molas, sofrimentos, impecilhos... Simplesmente porque ele não sabe dançar ou porque ele não me dá o espaço que eu quero ter! E acontece que instantes depois eu abaixo a minha guarda para um dançarinho tão ruim quanto o primeiro, que não sai do meu pé e com outras mil questões insuportáveis, mas que suporto, sei lá porquê (talvez seja a lua de hoje ou o que eu comi no café da manhã que me fez ser tão compreensiva assim..)! Qual é o nosso problema, afinal? (Digo "nosso" porque conheço várias amigas e amigos com comportamento semelhante)..

Fugindo da esfera do amor (que sempre é mais complicada - ou pelo menos parece ser, já que tão exaltada e comentada), falemos de amizade, por exemplo. Com esta, acontece a mesma coisa. Ás vezes, temos aquele amigo-perfeito (nos anima para sair quando necessário, nos abre os olhos quando precisamos, nos doa o ombro para chorar, nos empurra pra frente profissionalmente, nos apresenta os melhores caras (ou garotas, dependendo do caso) e, não sabemos porque, largamos tudo de mão quando necessário não por ele, mas por aquele nosso amigo furada, que julgamos depender de nós, já que devemos ser um dos únicos seres humanos a suportá-los, tamanha chatice!

Por que isso, né? Amarrar quilos e quilos de chumbo naquilo que está leve e suportar o peso, prejudicando nossa coluna e bem-estar com o que nos pesa?

Seria tudo tão fácil se amássemos quem nos amasse da mesma forma, se retribuíssemos beijos com beijos, sorrisos com sorrisos, abraços com abraços...

Seria tudo tão mais fácil e tão mais chato!!!

A verdade é que não gostamos ou temos que gostar dos outros pelo que eles nos fazem, gostamos por uma série de invariáveis que, assim como o funcionamento da nossa cabeça, não tem cabimento algum!

Quem disse que todo beijo tem que ser retribuido? Quem disse que todo esforço tem que ser recompensado? Quem disse que todo amor tem que ser correspondido? Quem disse que sexo tem que levar aos orgarmos de ambos os seres envolvidos nesse jogo de corpos, sedução, entrega?

Gostamos pela química demais, pelo riso descompromissado, pela falta de interesse uma vez ou outra, pelo dente um pouco torto que, aos nossos olhos, é puro charme.. pelas imperfeições que, moldadas à nós, constituem amores imperfeitamente perfeitos, amizades que pela diferença e maluquice, nos completam... Relacionamentos incongruentemente congruentes, assimetricamente simétricos, enlouquecidamente racionais...

... E essa é a graça!